Espectro Autista

Critérios/Diagnóstico

O DSM-V, segundo Grandin e Panek (2015), está atualizando a abrangência do diagnóstico. No DSM-IV, a categoria relacionada ao autismo era transtornos globais do desenvolvimento e incluía os seguintes diagnósticos: Transtornos Autista,  Transtorno Desintegrativo da Infância, Transtorno Invasivo do Desenvolvimento Sem Outra Especificação, Síndrome de Rett. No entanto, o DSM-V lista apenas um: Transtorno do Espectro Autista (TEA).

A descrição por faixa etária favorece o diagnóstico em cada idade, pois diferentes sintomas podem ser observados em cada etapa do desenvolvimento. O grau em que cada sintoma se manifesta determina a posição do quadro diagnóstico no espectro, podendo classificar-se como Nível 1, 2 e 3.

A possibilidade de entender os Transtornos Autistas nos padrões do espectro proporciona maior clareza diagnóstica, principalmente pela ampla gama de sintomas e sinais que podem ser observados, mas muitas vezes as variantes destes comprometem a hipótese diagnóstica. Vale ressaltar que, em todos os casos, a única característica que será comum a todos no ESPECTRO AUTISTA, mesmo que em graus variados, será a qualidade na interação social. Clique e saiba mais:

PRIMEIRO ANO DE VIDA

A. Aspectos relacionados à interação social

– o bebê não antecipa o movimento de ir ao colo dos adultos;
– ausência do sorriso social;
– não reconhece a voz da mãe;
– não faz/ mantém contato visual;
– não manifesta interesse pelas pessoas;
– não estranha pessoas novas;
– chora muito, sem motivo aparente ou quase não chora;
– apresenta pouca ou nenhuma expressão facial em resposta à situações emocionais ou sociais;
– permanece muito tempo parado ou mostra-se extremamente irrequieto;
– não aponta o que deseja;
– não se “aninha” no colo;
– não faz manifestações de carinho e, outras vezes, não recebe bem o carinho recebido;
– não se importa com outras crianças, mesmo aquelas de seu convívio;
– não compartilha o “brincar” com outros, muitas vezes não demonstrando interesse quando brincam com ele.

B. Aspectos relacionados à comunicação

– não emitem sons guturais ou, se o fazem, não parecem dirigir o som a outras pessoas;
– podem iniciar verbalizações como “dá”, “papa”, “mama”, mas não o fazem na situação adequada ou, depois de algum tempo, deixam de emitir tais sons;
– não utilizam gestos para comunicar o que desejam;
– não repetem sons significativos quando os adultos tentam ensiná-lo;
– podem emitir sons, gritos, mas não utilizam os mesmos como forma de comunicação, não demonstrando interesse em interagir.

C. Aspectos relacionados ao comportamento, interesses e atividades

– ausência de interesse por objetos coloridos, sonoros ou com movimento;
– ausência ou frágil preensão de objetos, ou ainda preensão exagerada com dificuldade em soltar o objeto (por ex., não segurar um chocalho, ou segurá-lo sem soltar);
– reações inadequadas a sons, podendo reagir com susto ou até
– pânico a sons rotineiros, como: liquidificador, secador de cabelos, sirene, etc. Em contrapartida, pode apresentar fascínio por determinados sons, principalmente sons repetitivos;
– irritabilidade à luz ou atração a determinado tipo de luminosidade;
– reações inadequadas à dor, podendo não manifestar reação a uma situação em que a dor é iminente e/ou demonstrar reação de excessiva dor em situação não correspondente;
– dificuldade em adormecer, podendo resistir muito para dormir ou dormir e acordar abruptamente diversas vezes a noite;
– irritabilidade ou passividade excessiva, podendo passar horas chorando inconsolavelmente ou ficar quieto por muito tempo, sem apresentar choro por fome, sede ou qualquer incômodo;
– resistência à introdução de novos alimentos, podendo resistir fortemente a alimentos sólidos;
– fascinação por objetos giratórios, podendo manter o olhar fixo, observando um objeto, ou parte dele, girar;
– balanceio do corpo quando sentado, podendo permanecer neste movimento por muito tempo, interrompendo-o quando segurado, mas voltando ao mesmo assim que sentir-se solto;
– grande interesse pelo movimento das próprias mãos, podendo permanecer muito tempo olhando o movimento das mesmas;
– ausência do “brincar”, não manifestando interesse por brinquedos, jogos de esconde-esconde (por ex., não se interessar pela brincadeira de esconder o rosto e vê-lo aparecer novamente, tão apreciado por bebês);
– rigidez quanto à mudança de rotina, por ex., não dormindo e/ou se alimentando em outros ambientes, que não aqueles em que está habituado;
– podem apresentar comportamento auto-agressivo, como morder a mão, bater a cabeça no chão ou na parede, não manifestando reação de dor proporcional ao sofrimento físico.

DO SEGUNDO AO QUINTO/SEXTO ANO DE VIDA

A. Aspectos relacionados à interação social

– ausência de contato visual ou contato visual “pobre”, parecendo olhar “através das pessoas”;
– não manifesta interesse pelas pessoas, não procurando outras crianças e até evitando-as quando se aproximam;
– apresenta pouca ou nenhuma expressão facial em resposta à situações emocionais ou sociais;
– apresenta hiperatividade ou excesso de passividade, sendo mais o comportamento hiperativo, com dificuldade em manter-se em um mesmo ambiente e/ou na mesma atividade;
– não aponta o que deseja, utilizando as outras pessoas como se um prolongamento de seu corpo (por ex., como “braço mecânico”, levando a mão do outra para a maçaneta da porta para abri-la);
– não faz manifestações de carinho e/ou não aceita o carinho do outro, ou ainda, manifesta carinho com impulsividade, chegando a ser agressivo no contato com o outro;
– não se importa com outras crianças, mesmo aquelas de seu convívio;
– não compartilha o “brincar” com outros, muitas vezes não demonstrando interesse quando brincam com ele;
– não responde adequadamente aos estímulos sociais, apresentando interação social pobre ou ausente;
– não participa de jogos e outras brincadeiras em grupo, preferindo permanecer sozinho;
– parece ignorar a presença de outras crianças ou mesmo adultos.

B. Aspectos relacionados à comunicação

– ausência do “olhar” como forma de comunicação;
– ausência da fala ou utilização desta sem objetivo comunicativo;
– ausência da comunicação gestual ou comunicação gestual pobre, não utilizando gestos simples como: dar tchau, ok, não e o apontar com o dedo indicativo, demonstrando o que deseja ou o que quer mostrar;
– ecolalia (repetição do que ouve)- pode ser: ecolalia imediata (repetição do que acabou de ouvir) ou ecolalia tardia (repetição de algo que ouviu há alguns dias ou até mesmo meses);
– inversão pronominal- ausência do uso de pronomes ou inversão dos mesmos, utilizando EU no lugar de VOCÊ ou VOCÊ no lugar de EU;
– fala ¨pedante¨- utilizar frases feitas, palavras não usuais para a idade, falando muito corretamente, mais do que o percebido por outras crianças da mesma faixa etária;
– ausência de entonação na fala- monotonia no discurso, sem alterações na verbalização. Velocidade, timbre e ritmo da fala alterados. Pode emitir frases afirmativas de modo interrogativo, por ex., dizendo: “quer suco?”, quando na verdade, está afirmando que deseja suco;
– compreensão literal do que ouve- ao ouvir: “que festa é essa?” em uma situação onde o locutor quer dizer que a alegria e/ou o barulho estão intensos, imediatamente começa a perguntar onde estão o bolo, o brigadeiro e as bexigas;
– repetição de frases, comerciais, “jingles”, fora do contexto da comunicação;
– ausência de expressão facial, para comunicar agrado ou desagrado;
– hiperlexia- a criança pode aprender a ler sozinha, independente de ser ensinada por qualquer adulto e independente de sua capacidade de comunicação verbal. Ela pode ser capaz de ler qualquer palavra ou frase, mesmo as mais difíceis.

C. Aspectos relacionados ao comportamento, interesses e atividades

– rigidez de apego à rotinas e rituais, podendo manifestar comportamento agressivo e/ou auto-agressivo em situações de quebra de rotina (por ex., se o lanche desejado, ao qual está acostumado não é oferecido, ou se falta uma peça no quebra-cabeça);
– intolerância à mudanças no ambiente (desde a troca de um sofá, ou mesmo a retirada de um tapete para lavar), podendo apresentar comportamento agressivo e/ou auto-agressivo em tais situações;
– apego excessivo a determinados objetos não-usuais, como um pedaço de barbante, chaves, cones de trânsito, insistindo em mantê-los consigo durante todo o tempo;
– uso de objetos independente de suas funções, por ex., brincar de carrinho, mas apenas girando suas rodas, sem utiliza-lo adequadamente;
– interesse exagerado por movimentos rotatórios;
– reações inadequadas à dor, podendo não manifestar reação a uma situação em que a dor é iminente e/ou demonstrar reação de excessiva dor em situação não correspondente;
– distúrbios do sono podem estar presentes;
– irritabilidade ou passividade excessiva, podendo passar horas chorando inconsolavelmente ou ficar quieto por muito tempo, sem apresentar choro por fome, sede ou qualquer incômodo;
– seletividade exagerada a alimentos, podendo aceitar apenas um determinado alimento durante dias, semanas ou meses
– estereotipias motoras, como movimentos das mãos, braços ou mesmo de todo o corpo;
– “flapping” – movimentos das mãos, que podem ocorrer em situação de ansiedade ou alegria;
– alterações na postura corporal, podendo andar desajeitadamente ou repetir movimentos “estranhos” ao andar (por ex., dar dois passos e bater na parede);
– realização de atividades repetitivas, como por ex., colocar diversos carrinhos enfileirados ou palitos, muitas vezes pode executar esse movimento em perspectiva;
– a memória visual é, em muitos casos, aprimorada, lembrando de trajetos, ruas, objetos, mesmo após muito tempo;
– presença de rituais, como bater nas portas de todos os cômodos da casa ao chegar;
– pode apresentar comportamento auto-agressivo, como morder a mão, bater a cabeça no chão ou na parede, não manifestando reação de dor proporcional ao sofrimento físico;
– demonstra ausência de noção de situações de perigo real, por ex., relacionadas à altura, animais ou mesmo ao trânsito;
– pode sair de casa se encontrar o portão aberto, andando por horas, sem demonstrar medo de estar sozinha ou perdida;
– em alguns casos pode apresentar interesse específico por algum tema, conhecendo-o profundamente e falando sobre ele mesmo que a pessoa a seu lado não demonstre interesse (por ex., aviões, corridas de carro, calendário).

PRÉ-ADOLESCÊNCIA E ADOLÊSCENCIA

A. Aspectos relacionados à interação social

– falta de reciprocidade no contato social, variando desde isolamento até a busca de contato com o outro, mas este ocorrendo de forma inadequada;
– recusa de contato físico/ afetivo, podendo apresentar contato físico exagerado e inapropriado;
– ausência de jogos simbólicos e de participação adequada em ambientes sociais, às vezes chegando a não suportar ambientes envolvendo mais pessoas (restaurante, supermercado, festas);
– falta de percepção das emoções e sentimentos dos outros;
– pode haver redução de alguns sintomas, mas a interação social continua prejudicada.

B. Aspectos relacionados à comunicação

– em alguns casos a fala continua ausente, enquanto em outros pode manter as características citadas acima quanto a ecolalia, inversão pronominal, fala pedante, mantendo a ritualização da fala;
– muitas vezes a comunicação através do olhar melhora, independentemente de treino;
– pode utilizar alguns gestos como forma de comunicação;
– quando há verbalização, mesmo que apresente algumas das características citadas acima, pode ser comunicativa, ou seja, pode ser compreendida pelo outro e utilizada como meio de comunicação;
– em alguns casos, podem ser utilizados meios alternativos de comunicação, com sucesso.

C. Aspectos relacionados ao comportamento, interesses e atividades

– a rigidez de apego à rotinas e rituais pode permanecer;
– intensificar-se, podendo manifestar comportamento agressivo e/ou auto-agressivo em situações de quebra de rotina (por ex., se o lanche desejado ao qual está acostumado não é oferecido ou se falta uma peça no quebra-cabeça);
– a intolerância à mudanças no ambiente (desde a troca de um sofá ou mesmo a retirada de um tapete para lavar), pode persistir, mas na maioria dos casos diminui, mantendo-se os rituais;
– os comportamentos agressivos podem ser acentuados durante a adolescência, como também a auto-agressão, sendo maiores quanto maior for o Retardo Mental;
– pode manifestar-se quadro depressivo, principalmente quando o Retardo Mental for mínimo ou não existir. Isso deve-se a percepção de suas dificuldades, portanto quanto maior a compreensão destas, maior a probabilidade de apresentar tal quadro;
– as reações inadequadas à dor podem persistir, podendo não manifestar reação a uma situação em que a dor é iminente e/ou demonstrar reação de excessiva dor em situação não correspondente;
– distúrbios do sono podem ainda estar presentes;
– irritabilidade ou passividade excessivas podem se manter, com alterações de comportamento associadas, seja pela hiperatividade e comportamento agressivo ou pela hipoatividade;
– a seletividade em relação aos alimentos pode permanecer, mas é bastante comum a compulsão alimentar, podendo ocorrer obesidade, principalmente nos indivíduos menos ativos;
– estereotipias motoras e maneirismos podem permanecer;
– alterações na postura corporal, podendo andar desajeitadamente ou repetir movimentos “estranhos” ao andar (por ex., dar dois passos e bater na parede);
– a memória visual é em muitos casos aprimorada, lembrando de trajetos, ruas, objetos, mesmo após muito tempo;
– presença de rituais como bater nas portas de todos os cômodos da casa ao chegar;
– pode apresentar comportamento auto-agressivo, como morder a mão, bater a cabeça no chão ou na parede, não manifestando reação de dor proporcional ao sofrimento físico;
– pode manter interesses específicos, muitas vezes manifestando conhecimento intenso sobre determinados assuntos, muito mais que a população em geral;
– alguns indivíduos podem desenvolver habilidades motoras e/ou mecânicas que os habilitam a realizar trabalhos ocupacionais e/ou profissionais.

VIDA ADULTA

A. Aspectos relacionados à interação social

– muitas das características relacionadas à inaptidão social se mantém, ocorrendo às vezes redução do isolamento, mas inadequações quanto ao contato interpessoal;
– se houver alguma possibilidade de atuação produtiva, seja ocupacional, terapêutica ou profissional, esta sem dúvida, aumenta a adequação social e a qualidade de vida.

B. Aspectos relacionados à comunicação

– se houver comunicação verbal, essa tende a manter-se, mas permanecendo as dificuldades da linguagem
– se aprenderam a utilizar algum tipo de comunicação alternativa, essa será utilizada na vida adulta

C. Aspectos relacionados ao comportamento, atividades e interesses

– na vida adulta, as características da adolescência normalmente se
mantém, acentuando algumas e outras reduzindo. Os interesses podem se manter inalterados, como também outros aparecerem. Em alguns casos, aparecem sintomas esquizofrênicos ou depressivos. Na maioria observa-se uma grande acomodação e passividade, podendo alternar com períodos de maior agitação e até agressividade.

Avaliação

Podemos definir dois tipos de avaliação, clique abaixo para saber mais:

AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA

Realizada preferencialmente por uma equipe de profissionais incluindo: neuropediatra, psicólogo, fonoaudiólogo. A avaliação é comportamental, incluindo entrevista com a família e observação da criança. O médico provavelmente solicitará exames para realizar o diagnóstico diferencial e determinar diagnósticos concomitantes. Os outros profissionais poderão utilizar escalas, testes e outros materiais para a complementação, sempre que necessário.

AVALIAÇÃO DE DESENVOLVIMENTO E ACOMPANHAMENTO

Objetiva avaliar o momento atual do desenvolvimento, com o principal objetivo de traçar as necessidades de tratamento a partir deste ponto. Também proporciona a possibilidade de acompanhar a evolução, para a reestruturação do tratamento. Existem diversas escalas, sendo que nossa equipe utiliza o PROTOCOLO SELF DE AVALIAÇÃO E ACOMPANHAMENTO, que engloba todas as áreas do desenvolvimento e fornece dados para a elaboração da PROGRAMAÇÃO TERAPÊUTICA INDIVIDUAL (PTI). Os instrumentos citados foram desenvolvidos pela Psicóloga Maria Helena Jansen de Mello Keinert, Diretora do SELF Centro de Atendimento Especializado em TEA.

Tratamento

As terapias devem ser indicadas conforme a necessidade de cada indivíduo, visto que as características individuais detectadas através da avaliação diagnostica e de desenvolvimento definirão as habilidades/dificuldades, que indicarão quais áreas devem ser mais estimuladas. Além do acompanhamento médico que independente do uso de medicação deverá estar presente, relacionamos a seguir as terapias indicadas. Clique e saiba mais:

Tratamentos ofertados pela Clinica Self :

PSICOLOGIA

Em função das questões relacionadas ao comportamento estarem quase sempre presentes, normalmente há a necessidade de acompanhamento psicológico. Os atendimentos poderão ser realizados individualmente ou em pequenos grupos, dependendo da necessidade e da possibilidade de cada sujeito Outro fator importante na presença do Psicólogo no tratamento de indivíduos no ESPECTRO DE AUTISMO é a necessidade de integração dos profissionais envolvidos e da manutenção de uma linha de trabalho, com a orientação paralela à família. Conforme já citado em vários capítulos, a integração através do modelo cognitivo-comportamental poderá oferecer a todos os envolvidos uma postura linear e adequada.

A psicoterapia cognitivo-comportamental oportuniza a modificação de comportamentos, extinguindo comportamentos inadequados e favorecendo a aquisição de comportamentos adequados. Favorece a aprendizagem de comportamentos que podem auxiliar o sujeito a adequar-se à sua realidade, tanto na vida familiar como no meio social.

As famílias necessitam não somente de orientação, mas também, de apoio psicológico, pois tanto a compreensão do quadro quanto a alteração de suas expectativas em relação à criança precisam ser trabalhadas. Dessa forma, em muitas situações é fundamental o encaminhamento da família, do casal, dos pais individualmente, como também dos irmãos, para atendimento psicológico.

PSICOPEDAGOGIA

Cada indivíduo tem suas próprias características para o aprendizado, tanto sistemático quanto assistemático. Desde o berço vão se desenvolvendo formas de aprendizagem, de lidar com os erros e acertos, aprender através de ensaio e erro, integrar as percepções do mundo, enfim, como cada indivíduo vai entrar em contato com o mundo para construir seu conhecimento. O indivíduo no ESPECTRO AUTISTA apresenta características próprias ainda mais distintas, pois sua forma de “ver” o mundo é ainda mais particular. O profissional dessa área precisa descobrir de que forma esse sujeito, em particular, acessa o mundo, para através desta porta, aproximar-se e favorecer a aprendizagem. O canal mais utilizado é, na maioria dos casos, a visão, pois através de estímulos visuais o acesso à informação mostra-se mais eficaz.

Outro aspecto importante é, muitas vezes, a capacidade de memorizar, que pode ser também uma forma de desenvolver aprendizagens sequenciais. A inflexibilidade, característica observada em muitos no ESPECTRO AUTISTA, pode ser utilizada como mecanismo de oportunizar aprendizagens, desde que o profissional utilize este canal em favor do próprio indivíduo, organizando sua rotina, seus ambientes e materiais. Com a sistematização e a organização, o sujeito terá segurança e poderá adquirir autonomia para lidar com sua vida e, também, com o mundo a sua volta.

A atuação do profissional pode ser através de atendimentos individuais ou em grupo, sendo fundamental sua participação no processo de inclusão, quando esta for possível.

FONOAUDIOLOGIA

Esta terapia atua em diversas áreas, tanto na área de motricidade oral em relação às funções estomatognáticas (respiração, mastigação, deglutição e fala visando o equilíbrio mio funcional), como também a Voz, Linguagem e Audiologia. O indivíduo no ESPECTRO AUTISTA apresenta muitas dificuldades relacionadas aos fatores expostos acima, sendo muitas vezes um dos aspectos que mais precisam ser trabalhados. Nas dificuldades relacionadas à linguagem receptiva, é necessário o desenvolvimento de habilidades de comunicação entre as pessoas que convivem com o indivíduo, para favorecer sua compreensão do mundo, o que se espera dele, como desempenhar determinada função, como realizar uma atividade.

Em relação à linguagem expressiva, esta precisa apresentar conteúdo comunicativo, pois em muitas situações, observamos que o sujeito fala, mas não comunica, ou seja, a capacidade verbal não é utilizada com a função de comunicar-se, perdendo desta forma seu principal objetivo.

Aspectos como: inversão pronominal, ecolalia, que são características observadas na linguagem do ESPECTRO, pode ser extintas ou, ao menos, minimizadas através da terapia fonoaudiológica. Muitos indivíduos não desenvolvem a comunicação verbal, sendo fundamental oportunizar formas de comunicação alternativa com características individuais, que mais se adaptem às suas necessidades e habilidades.

FISIOTERAPIA

Nesta área, as dificuldades relacionadas à psicomotricidade e postura são as mais comuns no ESPECTRO AUTISTA, quando não existem quadros associados. Muitas vezes apresenta habilidades motoras adequadas ou, até, acima da média, mas nos casos de Transtorno de Asperger encontramos dificuldades em relação à coordenação motora global, que pode tornar-se mais um obstáculo para a adaptação social. É importante possibilitar a melhora das habilidades motoras, necessárias à aquisição de diversos comportamentos e aprendizagens. A questão postural pode estar prejudicada pela hipoatividade, presente em alguns sujeitos.

MUSICOTERAPIA

Além de praticamente todos no ESPECTRO AUTISTA serem apreciadores de música, este é um dos grandes canais de acesso. A musicoterapia favorece a sensibilidade, a organização, o desenvolvimento da atenção e concentração, auxilia no desenvolvimento psicomotor e da comunicação. Como fator de organização, é perceptível a possibilidade de redução de comportamentos auto e hetero-agressivos, hipo e/ou hiper-ativos, através de atividades de relaxamento, adaptação da música ao indivíduo e atividades de ritmo. A musicoterapia utiliza sons, ritmos, músicas e até a criação de músicas. Os atendimentos podem ser individuais, estimulando o sujeito de acordo com sua necessidade, como também em grupos, inclusive como fator de socialização.

TERAPIA OCUPACIONAL

A possibilidade de adaptar objetos às necessidades individuais é um dos aspectos bastante conhecidos do trabalho nesta área, mas o desenvolvimento psicomotor é o aspecto que mais valorizamos, pois a exploração de atividades variadas possibilita muitos ganhos ao ESPECTRO AUTISTA. O trabalho desenvolvido nas AVDs (atividades da vida diária) visa estimular a independência em todos os comportamentos do cotidiano, sempre buscando a autonomia do sujeito. A organização da rotina, estruturação dos ambientes e materiais, tão importantes a todos, é extremamente favorecido por este profissional. Oportunizar diferentes atividades e proporcionar experiências que visem a produção e consequente realização, seja em atividades físicas, manuais ou mesmo sistemáticas, é uma grande necessidade, principalmente para adolescentes e adultos. Esta terapia visa, enfim, a melhoria da qualidade de vida do indivíduo.

PECS (PICTURE EXCHANGE COMMUNICATION SYSTEM)

Consiste em um sistema de intercâmbio de figuras representativas de palavras, situações, sentimentos e ações, que estimulam a comunicação não verbal, favorecendo a aquisição da comunicação verbal. Através do PECS o individuo não depende do adulto para expressar seus desejos e necessidades, pois é ele quem inicia o processo de comunicação.

O inicio deste processo ocorre com a detecção de coisas que atraem o individuo, para que então seja confeccionado um cartão com a imagem deste (foto ou desenho). Nesta primeira etapa são necessárias duas pessoas, pois enquanto uma entrega o cartão na mão do individuo, a segunda apenas estende a mão, como sinal para recebê-lo, enquanto, ao mesmo tempo em que recebe o cartão, entrega o objeto solicitado. Na seqüência, a segunda pessoa se afasta, obrigando o individuo a ir ate ela para entregar o cartão. Novamente, nada é perguntado, apenas aguarda-se a entrega do cartão para oferecer o objeto desejado. Outras pessoas também poderão participar desta etapa, fazendo-o compreender que todos poderão dar-lhe o que deseja, desde que entregue o cartão correspondente. Cada cartão será utilizado separadamente, até que gradativamente dois cartões poderão ser apresentados, para que escolhe o que deseja comunicar naquele momento.

Posteriormente serão introduzidas frases, como: “Eu quero”, “Eu vou”, etc., proporcionando uma comunicação mais ampla e adequada. As experiências realizadas com o PECS indicam que muitos indivíduos iniciam a comunicação verbal paralelamente ao uso dos cartões.

O PECS não se constitui em alternativa educacional, mas é um grande favorecedor deste processo, pois permite que outros a sua volta o compreendam, proporcionando experiências mais completas em qualquer ambiente.

PROGRAMA DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO

Este PROGRAMA, desenvolvido pela Psicóloga Maria Helena Jansen de Mello Keinert, Diretora do SELF Centro de Atendimento Especializado em TEA, é baseado nos princípios do ABA (Applied Behavior Analysis), que significa Análise Aplicada do Comportamento e que utiliza métodos baseados em princípios científicos do comportamento, visando a aquisição de novos e relevantes comportamentos, a modificação de comportamentos inadequados e a extinção de comportamentos indesejáveis.

Os Programas são baseados nos itens do PROTOCOLO SELF e da PROGRAMAÇÃO TERAPÊUTICA INDIVIDUAL, seguindo etapas minuciosamente desenvolvidas, com o objetivo de gradualmente atingir o comportamento final desejado.
Após o levantamento das características do indivíduo e da elaboração da PTI, os Programas são selecionados para aplicação. O Aplicador necessita de treinamento especifico em Análise Aplicada do Comportamento, que deve ser realizado por profissional com tal formação.

O próximo passo é a identificação de reforçadores, que serão utilizados para estimular a aquisição, modificação e manutenção dos comportamentos selecionados.

É importante que o reforçador seja escolhido a partir do interesse e preferências do indivíduo para que seja efetivo. Também deve haver preocupação com a quantidade e tempo demandado pelo reforçador, portanto, se a seleção indicar um alimento, deve ser utilizado algo muito pequeno: chocolate granulado, sucrilhos, pequenos pedaços de biscoito, gole de suco, enfim, algo que seja rapidamente absorvido e que não provoque saciação. Caso seja escolhido um brinquedo, revista ou música, deverá ser utilizado por um tempo restrito, objetivando a continuidade do trabalho.

Ao iniciar qualquer Programa, é necessário primeiramente certificar-se de que a atenção da criança está direcionada para o adulto e para o movimento ou material que ele tem em mãos. Somente após ter certeza da atenção da criança, o adulto iniciará o primeiro procedimento do Programa.

Jamais insistir exaustivamente com um Programa. Sempre tentar algumas vezes, em dias diferentes, substituindo os reforçadores se necessário, mas manter a observação quanto às possibilidades da criança em executar determinado Programa. Alguns podem ser muito difíceis para ela em determinado momento, devendo ser interrompidos e retomados posteriormente. Forçar a criança com um Programa poderá prejudicar todo o processo, gerando comportamento arredio ou opositor ao PROGRAMA DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO (PAD).

Tratamentos não ofertados pela Clinica Self :

HIDROTERAPIA

A relação do ESPECTRO AUTISTA com a música é tão intensa como o é com a água. A água tem sido usada como forma terapêutica ao longo dos anos. A hidroterapia ou fisioterapia aquática, realizada por fisioterapeutas, utiliza piscina aquecida e coberta, onde através de técnicas diversas de reabilitação associadas às propriedades físicas da água, com o objetivo de produzir efeitos fisiológicos no indivíduo. Tais efeitos causam aumento da movimentação ativa, melhora no equilíbrio e postura, proporcionando além do prazer e de outros benefícios, melhora na autoconfiança e na auto-estima. O contato com a água funciona como estimulante e, ao mesmo tempo, relaxante muscular e psíquico, favorecendo a propriocepção e a estruturação do esquema corporal, através do autoconhecimento.

EQUOTERAPIA/ECOTERAPIA

É um método terapêutico que utiliza o cavalo como recurso, favorecendo o desenvolvimento de potencialidades e a interação do social indivíduo. O movimento rítmico do cavalo permite estimulações sensoriais, através da participação de todo o corpo (músculos e articulações). O terapeuta estimula a autoconfiança, a auto-estima, fala, linguagem, organização corporal/espacial e temporal, equilíbrio, entre outros aspectos. A equoterapia auxilia nas questões comportamentais, reduzindo a agressividade, facilitando a interação com o outro, levando o indivíduo a perceber suas limitações e potencialidades.

ALTERNATIVAS EDUCACIONAIS

Este tema levanta em primeira instância a questão da inclusão, pois ao pensar em alternativas educacionais nos deparamos com a instituição Escola, que é o meio de aprendizagem formal utilizado em nossa sociedade.
Em relação ao ESPECTRO AUTISTA, é necessário analisar qual meio poderá proporcionar maior qualidade de vida e melhores condições de aprendizagem, em função do grau de comprometimento nas diversas áreas.

ESCOLA ESPECIAL

São poucas as alternativas de Escolas Especiais para esta clientela, até porque como já debatido anteriormente, o atendimento individualizado e sistemático é fundamental para a aprendizagem deste individuo. A possibilidade de intercalar o atendimento em Escola Especial com Programas individualizados é, sem duvida, uma excelente opção, principalmente para adolescentes e adultos, quando em função do grau do ESPECTRO não há aproveitamento na Escola Regular.

A estrutura da Escola Especial deverá contemplar a organização dos ambientes e materiais, e a sistematização do trabalho, lembrando sempre que a organização exterior favorece a organização interior. A Escola Especial é vista como um suporte ao desenvolvimento do portador de autismo, pois não somente atua no desenvolvimento cognitivo e na aprendizagem sistemática, como também visa a integração social do individuo.

A opção da Escola Especial é favorável ao indivíduo que não possui possibilidade de ingressar em programas de inclusão, desde que exista proposta especifica para portadores de autismo, além de funcionar com grupos reduzidos, em atendimentos individualizados.

INCLUSÃO

À parte questões políticas e legais, serão discutidas os aspectos técnicos e de adequação sócio-educacional. O ponto determinante para a inclusão é o quanto o individuo aproveitará do convívio com outros, o que poderá aprender e qual estrutura a Escola poderá dispor para adequar suas necessidades.

A inclusão pode ser parcial ou integral, dependendo da proposta de participação do individuo. Quando o objetivo é exclusivamente a integração social, poderá ser indicada a inclusão parcial, com participação em alguns dias da semana, ou em horários reduzidos. Havendo a possibilidade de aprendizagem formal, a inclusão deverá ser total, com participação em praticamente todos os horários, excetuando-se aqueles em que o individuo apresente dificuldades especificas. Nestes poderá ser acompanhado por um assistente, que em alguns casos é outro aluno da Escola, ou mesmo retirado para outro tipo de atividade. Em muitas situações é necessário atendimento individual, para apresentar algum conteúdo novo ou mais complexo.

As características do ESPECTRO AUTISTA, por si só podem determinar extrema facilidade em algumas áreas do conhecimento, como também, revelar dificuldades incríveis na compreensão de outras. Por exemplo, podemos encontrar indivíduos com facilidade em memorizar, realizar cálculos matemáticos, entre outras habilidades, mas não será raro nos depararmos com grandes dificuldades na interpretação de textos. Daí, a necessidade de conhecimento, por parte do Professor e Direção, treinamento especifico e acompanhamento por profissionais especializados.

Ao ser definida a possibilidade de inclusão, os seguintes passos deverão ser seguidos:

1. Seleção da Escola- verificação da disponibilidade da equipe em aceitar o desafio e preparar-se para receber este aluno;

2. Preparação da Equipe- discussão com a equipe escolar sobre características do ESPECTRO AUTISTA, características especificas do aluno, formas de lidar com comportamentos inadequados e/ou agressivos, necessidade de previsibilidade de atividades e situações novas, importância de utilizar reforço social, além da graduação de dificuldades ao ser apresentado um novo conteúdo;

3. Preparação do Ambiente Físico- conforme a necessidade do aluno, é importante a preparação do ambiente, tanto através de sinais visuais, como também da organização de material e rotina;

4. Preparação dos Alunos- a chegada de um aluno especial requer a intervenção com o grupo, com o objetivo de prepará-los para receber adequadamente, perceber suas características, compreender a necessidade de apoio e valorizar a integração social.

5. Acompanhamento da Equipe- a orientação e supervisão da equipe escolar pela equipe técnica que acompanha o individuam deve ser sistemática e continua, visando a adequação de normas, conteúdos e comportamentos. Por vezes é necessária a discussão com os pais de alunos envolvidos, para que compreendam e auxiliem no processo.

6. Acompanhante Terapêutico- em algumas situações especificas, há a indicação de um profissional que realize o acompanhamento dentro da Escola, em algumas atividades e/ou por determinado espaço de tempo. O acompanhamento direto não nos parece adequado, pois não haverá ganho para o individuo em trabalhar individualmente dentro de um grupo, com um adulto mediando cada passo de suas atitudes. Com a presença constante, o próprio individuo não encontrará seus próprios recursos para desenvolver atividades, aprimorar comportamentos e buscar relacionar-se com o grupo. Quando esta intervenção é necessária, indicamos outro tipo de trabalho, não a inclusão.

TEACCH

O Sistema TEACCH (Treatment and Education of Autistic and related Communication-handicapped Children) é uma abordagem comportamental com apoio na psicolinguística, desenvolvido em meados dos anos 60, no Departamento de Psiquiatria da Universidade da Carolina do Norte, EUA, pelo Dr. Eric Schopler e colaboradores, a partir de estudos realizados no TEA. O ambiente é organizado com apoio de recursos visuais, a rotina é estruturada e o trabalho individualizado.

No TEACCH, o objetivo é a independência e a aprendizagem, sempre através de ambientes estruturados, com sinalização visual, promovendo a comunicação e respeitando a individualidade. A participação dos pais é fundamental para o sucesso do trabalho, como também as avaliações constantes. As tarefas devem ser estruturadas, com etapas visualmente claras, para que o indivíduo possa desenvolvê-las com o máximo de autonomia.

O TEACCH favorece a atenção e concentração, alem de estimular o controle do comportamento, em função da organização e sistematização das atividades. O uso de cartões, tanto para organização do ambiente como para estruturação da rotina, favorece a aprendizagem de conceitos, reduz a dispersão, e auxilia na implantação do PECS (Picture Exchange Communication System).

Do ponto de vista das alternativas educacionais, o TEACCH pode ser utilizado tanto na Escola Regular com as devidas adaptações, como na Escola Especial, além da Clinica e/ou outro tipo de Instituição.

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